Privatização de Hidrovias no Brasil: Um Passo Prematuro Diante de Desafios Essenciais.

A discussão acerca da privatização de hidrovias no Brasil tem suscitado debates acalorados. No entanto, uma questão fundamental muitas vezes negligenciada é a infraestrutura subjacente: a transformação de rios navegáveis em hidrovias plenamente operacionais. Privatizar algo que ainda não existe representa um desafio arriscado e prematuro. Antes de se aventurar na privatização, é imperativo que os desafios críticos da transformação das vias fluviais sejam enfrentados.

Transformar rios navegáveis em hidrovias operacionais não é uma tarefa trivial. Requer investimentos significativos em derrocamento de pedrais, dragagens para garantir profundidade, sinalização adequada e medidas de segurança para prevenir acidentes. A mera privatização não aborda esses problemas inerentes, e negligenciar esses aspectos pode resultar em hidrovias ineficientes e inseguras.

A privatização não pode ser considerada a primeira etapa em direção ao desenvolvimento de hidrovias no Brasil. Antes de qualquer discussão sobre privatização, é crucial que os rios navegáveis sejam transformados em hidrovias devidamente equipadas para o transporte eficiente de cargas. Sem esse passo prévio, a privatização corre o risco de ser um empreendimento fadado ao fracasso, com empresas privadas enfrentando obstáculos insuperáveis.

A pressa em privatizar antes de criar uma infraestrutura adequada pode trazer consequências negativas para a população. A tentativa de impor taxas de pedágio aos armadores sem resolver os problemas de infraestrutura só aumentará os custos, que inevitavelmente serão repassados aos consumidores finais. Isso resultará em preços mais altos para os produtos, afetando diretamente a vida das pessoas.

A transformação de rios navegáveis em hidrovias funcionais requer planejamento estratégico e investimentos ponderados. O governo desempenha um papel fundamental nesse processo, assegurando que os recursos sejam alocados de forma eficaz e que todas as etapas necessárias sejam cumpridas antes de se considerar qualquer iniciativa de privatização.

A privatização de hidrovias no Brasil deve ser considerada uma etapa subsequente, não a primeira, em direção ao desenvolvimento de um sistema de transporte fluvial eficiente. É essencial reconhecer os desafios intrínsecos na transformação de rios navegáveis em hidrovias, garantindo investimentos adequados em infraestrutura, segurança e eficiência antes de se aventurar na privatização. Priorizar a construção sólida das hidrovias é fundamental para evitar riscos desnecessários e assegurar um transporte fluvial benéfico para a economia e a população.

Raimundo Holanda C. Filho - Empresário, Presidente da FENAVEGA, Vice Presidente da CNT, Membro dos Conselhos do SEST-SENAT, FUMTRAM e ITL.

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