O projeto de privatização dos rios brasileiros, começando pelo Rio Madeira, representa uma ameaça direta ao agronegócio e à indústria nacional, setores que dependem fortemente do transporte hidroviário. Com fretes mais baratos, o transporte fluvial garante competitividade internacional para nossas exportações. No entanto, a privatização pode comprometer esse modelo econômico, elevando custos e trazendo sérios riscos à segurança e eficiência das operações.
Como presidente da FENAVEGA – Federação Nacional das Empresas de Navegação, encaro essa proposta com grande ceticismo. O histórico de intervenções no Rio Madeira, especialmente no que tange à dragagem, tem sido marcado por falhas e desperdício de recursos públicos. O caso mais recente, a obra de dragagem de 2024, é emblemático: em vez de utilizarem equipamentos adequados, estão recorrendo a dragas de garimpo improvisadas, um método precário e ineficaz.
Em vez de melhorar a navegabilidade e aumentar a segurança, essa obra tem gerado o efeito oposto. Diversas empresas de navegação suspenderam suas operações, aguardando o início do período de cheia para retomar os trabalhos. A situação atual não oferece condições seguras para operar, o que afeta diretamente a logística de transporte de produtos essenciais. É alarmante que, diante dessa realidade, o governo considere privatizar um rio tão estratégico sem sequer conseguir garantir serviços de dragagem eficientes.
O desperdício de recursos e a falta de planejamento são evidentes. O Rio Madeira, uma das principais rotas de escoamento do agronegócio brasileiro, não pode ser gerido de forma irresponsável. A privatização, em vez de resolver os problemas, pode agravá-los, deixando o setor produtivo refém de tarifas mais altas e de uma gestão que não tem compromisso com o desenvolvimento sustentável e eficiente da hidrovia.
É preciso ressaltar que a privatização do Rio Madeira não oferece garantias de melhorias para os usuários do sistema de transporte fluvial. Pelo contrário, ao entregar a administração a empresas privadas, sem um plano robusto de infraestrutura e fiscalização, o governo arrisca aumentar a vulnerabilidade da economia nacional, prejudicando diretamente o comércio internacional e a competitividade do Brasil.
O futuro da navegação brasileira deve ser construído com base em soluções estruturais, planejamento sério e gestão pública eficiente. O Rio Madeira, um patrimônio natural e econômico, não pode ser entregue de maneira apressada à iniciativa privada sem que haja garantias de que essa decisão trará reais benefícios para o país. O que vemos, até o momento, é um cenário de insegurança e promessas vazias, onde as operações se tornam mais arriscadas e os custos, potencialmente, mais elevados.
Privatizar o Rio Madeira, sem resolver os problemas crônicos de gestão e infraestrutura, é um passo perigoso. O Brasil não pode abrir mão de uma de suas maiores vantagens logísticas sem assegurar que essa mudança trará avanços reais. O que está em jogo é a capacidade do país de competir no mercado global e de garantir a sustentabilidade do transporte hidroviário, tão essencial para o nosso agronegócio e para a indústria nacional.
Raimundo Holanda C. Filho, Empresário, Presidente da Fenavega - Federação Nacional das Empresas de Navegação